Eu não sei na verdade quem eu sou...


Eu sinceramente achava que me conhecia. Gostava na maior parte do tempo do que via no espelho, para além dos padrões do corpo, isso nunca me importou muito. O que por sinal, é um privilégio enorme, ser mulher nesse mundo machista, se olhar no espelho e não ver algo que a sociedade diz que está errado com o seu corpo.

As minhas maiores neuras sempre vieram e continuam vindo da minha cabeça, em relação a minha cabeça. Não me lembro de travar uma luta com o meu corpo desde a adolescência, mas, a encaro mais como um processo de se acostumar com o novo corpo e reconhecê-lo do que propriamente uma briga com ele. Meus peitos cresceram antes de tudo, não são grandes mas, na época foi esquisito.

Levou tempo, obviamente para me empoderar, entender o meu lugar na sociedade, o que é ser mulher. Algo que acho que ajudou muito, foi na época ter uma certeza inabalável de quem eu queria me tornar, e por muito tempo eu foi a pessoa que sonhava em ser quando era criança.

Essa pessoa, hoje, está muito frustrada e desnorteada. Na verdade eu não tenho a menor ideia do meu propósito.Sim, eu cumpri muitas das minhas metas, realizei muitos dos meus sonhos. Só que hoje, eu vejo que seria bem feliz com menos.

Na verdade, eu quero bem menos de tudo isso. Eu não me "jogo pedras", meu passado foi importante, até as coisas muito bosta foram importantes, as conquistas que hoje considero secundárias foram muito importantes, inclusive no meu processo de auto conhecimento, saber até onde posso ir.

Todos esses processos foram importantes para a minha construção enquanto mulher. Eu já estive muito feliz com tudo o que eu tive mas, hoje decidi abandonar muita coisa, algumas eu perdi e não vão voltar, e eu não vou dizer que é fácil.

Eu já me cobrei muito, por não estar onde eu queria estar em determinado momento da minha vida,tudo que eu queria era estar no controle, estabelecer um padrão de felicidade e então começar a viver ali, naquele lugar feliz e estável.

Esse lugar feliz e estável, não existia de verdade. E fingir que ele existia custava muito da minha sanidade. Eu poderia dizer que fui feliz, porquê, realmente fui. As vezes, não se questionar o porque das suas ações pode ser uma benção, pelo menos é um lugar de conforto.

Eu cheguei lá, onde minhas mãos queriam tanto alcançar, poderia dizer que o "meu eu do passado", aquela que eu era com sei lá, 8 anos de idade, ficaria incrivelmente feliz mas, as coisas foram desmoronando, quando eu comecei a me perguntar "por que estou fazendo isso comigo?"

Eu estou a 1 ano e meio no que eu chamo de "espiral descontrolada de merda" e está bem difícil. O meio de 2016 e o ano de 2017 foi uma catástrofe. Eu realmente fui pega por um furacão e toda aquela estabilidade que eu construí foi perdida. Eu fiquei com apenas os escombros da minha vida.

Eu poderia me acarrar no meu trabalho, a minha pesquisa, o blog, no canal e em quem eu era "lá fora" mas, o que eu iria fazer quando o expediente acabace? Quando eu deitasse na cama? Quando a internet caísse? Ou para ser mais dramático/realista, quando pagar uma mudança de apartamento fosse mais importante do que pagar um host ou um domínio?

Esse era o lugar em que eu não queria estar, o lugar de profunda solidão, esse buraco negro aumentava e as coisas paravam de fazer sentido. Não fazia sentido alimentar um público, um currículo acadêmico impecável e a visão inabalável que outros tinham de mim quando na verdade, eu enchia um quarto de lágrimas todos os dias. 
Não foi o que eu conquistei ao longo de anos de trabalho que me fez sentir tanta dor, não a exposição ou as pressões diárias, afinal, eu sempre comi pressões diárias no café da manhã, a vida nunca foi fácil.

O que me tirou do eixo, da zona de conforto, foi o que eu perdi, e eu perdi meu filho. A única pessoa com que de fato eu me importava e sem ela, do que valia tudo aquilo que eu tanto trabalhei para ter? Com quem eu ia dividir todas essas conquistas e experiências?
Ficar em casa fingindo que eu não existia doía bem menos do que ir trabalhar na minha dissertação e chegar em casa e ver aquele berço vazio, os brinquedos e as roupas encaixotadas, aquela casa tão vazia de calor e esperança.

Eu trocaria tudo isso com o que eu não me importo agora, para ter essa pessoa de volta. 2017 foi um ano de profunda dor e só agora eu estou conseguindo falar sobre isso. E eu não posso e nem quero prometer nada agora, eu quero e espero bem menos da vida.
Não posso dizer que valorizo o que é mais importante, só posso dizer que não vou gastar energia com o que não é. Então, para todas essas coisas, eu não vou estipular um espaço na agenda, não vou estabelecer metas e principalmente. não vou me cobrar.

Foi bom voltar as escrever...mas, por muito tempo foi impossível, as coisas doíam demais e simplesmente não davam para ser escritas. Agora as faço sem pretensão alguma e sem me importar com a opinião de quem quer que seja. Então, até o próximo post, ou não.

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